17 abril 2024

Descendo das árvores: Clima, hábitat, nicho e as origens da humanidade

Felipe A. P. L. Costa

RESUMO. – Chimpanzés e seres humanos derivaram de um mesmo ancestral comum. Evidências fósseis e moleculares indicam que o ramo ancestral se dividiu em dois há 5-8 milhões de anos. De um lado, prosperou a linhagem que daria origem aos chimpanzés; de outro, a que daria origem aos humanos. As duas linhagens se diferenciaram e se afastaram, dando origem a múltiplas ramificações e a diferentes estilos de vida. Os ancestrais dos chimpanzés continuaram a viver em florestas fechadas, enquanto os nossos ancestrais desceram das árvores e passaram a viver em hábitats mais abertos, dominados por gramíneas e outras plantas herbáceas.

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15 abril 2024

Eras glaciais e interglaciais

J. O. Ayoade

Não obstante se calcule que a Terra possua cerca de 3 a 4 bilhões de anos, o estudo de climas passados (paleoclimatologia) cobre apenas mais ou menos 500-600 milhões de anos. Isto porque as evidências de climas passados só raramente são encontradas em rochas pré-cambrianas. [...]

Acredita-se que na maior parte do último bilhão de anos tenham ocorrido condições climáticas moderadamente quentes e, portanto, sem ocorrência de gelo. Este clima moderadamente quente foi interrompido por duas idades glaciais anteriores à época do Pleistoceno, do último milhão de anos. Há cerca de 300-350 milhões de [anos], geleiras continentais cobriam as atuais América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártica. [...] Anteriormente, entre cerca de 600-800 milhões de anos atrás, ocorreu glaciação na Groelândia, África, Austrália e Ásia. [...] [De 350 milhões de anos para cá], a tendência geral da temperatura tem sido descendente.

[Em suma,] [t]rês períodos de glaciação ocorreram nos últimos 600 milhões de anos, mais ou menos. Houve uma glaciação no período pré-Cambriano, durante o Permiano e, mais recentemente, durante o Pleistoceno. [...] [O] clima da Terra tem estado frio na maior parte do último milhão de anos, oscilando através de uma série de episódios glaciais e interglaciais, durante os quais as geleiras continentais avançaram e recuaram à medida que a temperatura abaixava ou se elevava.

Fonte: Ayoade, J. O. 1986 [1983]. Introdução à climatologia para os trópicos. SP, Difel.

13 abril 2024

Dois milhões e meio de anos atrás

Peter Ward

Dois milhões e meio de anos atrás. Trata-se de uma data significativa para vários ramos diferentes da ciência. Para os paleoclimatologistas, significa o princípio da grande perturbação climática que iniciou as Idades do Gelo. Para os antropólogos, ela agora marca a primeira aparição de nosso gênero e uma grande diversificação dos hominídeos. Para os geólogos, denota o fim de uma unidade de tempo geológica – a Época do Plioceno – e o início de outra, o Pleistoceno. Eu acredito que ela também marca o início da extinção moderna, o Terceiro Evento.

Fonte: Ward, P. 1997. O fim da evolução. RJ, Campus.

12 abril 2024

17 anos e meio no ar

F. Ponce de León

Nesta sexta-feira, 12/4, o Poesia Contra a Guerra está a completar 17 anos e cinco meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘17 anos e cinco meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Alberto Moravia, Detlev Ploog, Garcilaso de la Veja, James A. H. Murray, James H. Brown, John Worrall, Jorge Manrique, Margaret Masterman, Mark V. Lomolino, Nathan Glazer, Paul F. Lazarsfeld e Ziraldo. Além de material de autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: Bernardo Ferrándiz, José Moreno Carbonero e Pierre Dumont.

10 abril 2024

A natureza do paradigma

Margaret Masterman

Visto sociologicamente (em contraposição à sua concepção filosófica) o paradigma é um conjunto de hábitos científicos. Seguindo esses hábitos a solução bem-sucedida de problemas pode continuar; eles tanto são intelectuais, verbais, comportamentais, quanto mecânicos e tecnológicos, pertencendo a qualquer um desses gêneros ou a todos ao mesmo tempo; tudo depende do tipo de problema que está sendo resolvido. A única definição explícita de paradigma, com efeito, que Kuhn apresenta é em função desses hábitos, conquanto os reúna a todos sob o nome de realização científica concreta. “Ciência normal”, diz ele [...], significa “pesquisa baseada numa ou em mais de uma realização científica passada, que alguma comunidade reconhece durante algum tempo como fornecedora dos fundamentos da sua prática ulterior”. Tais realizações (i) “suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de adeptos, desviando-os de modos concorrentes de atividade científica”, e (ii) “suficientemente abertas para deixar todas as espécies de problemas ao grupo redefinido de profissionais a fim de que os resolvam. As realizações que partilharem das duas características chamarei, daqui por diante, paradigmas”. Assim, atribuindo o lugar central, na ciência real, a uma realização concreta em lugar de atribuí-lo a uma teoria abstrata, Kuhn, único entre os filósofos da ciência, coloca-se em condições de dissipar a preocupação que tanto aturde o cientista que trabalha ao defrontar-se pela primeira vez com a filosofia da ciência profissional: “Como poderei utilizar uma teoria que não existe?”

Fonte: Lakatos, I. & Musgrave, A. 1979 [1965]. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. SP, Cultrix & Edusp.

08 abril 2024

Um dia de farra


Bernardo Ferrándiz [Bádenes] (1835-1885). Un día de juerga en Málaga. 1872.

Fonte da foto: Wikipedia.

06 abril 2024

Farinha do mesmo saco

Ziraldo

A essa altura dos acontecimentos, o Zé Maria Rabêlo já deve ter enlouquecido. Ainda não entreguei o texto que ele me pediu. Bem feito! Ele também enlouquecia a gente com o seu ritmo veloz, com sua capacidade espantosa de abraçar o mundo com as pernas (não tivesse ele as pernas compridas que tem).

Uma vez fui levado do aeroporto de Paris diretamente para sua livraria íbero-brasileira. Nem passei no hotel. O Augusto, famoso legionário (de verdade) e agitador político internacional, fazia as vezes de seu chofer e foi quem me pegou na chegada do avião. “Antes de ir para o hotel, vamos lá dar um abraço no Zé Maria!” Topei. E com a cara mais cansada do mundo, depois de atravessar o Atlântico sem dormir, fiquei sentado três horas em frente à mesa do Zé (fazia um calor brasileiro), que não parava de falar ao telefone, que dava ordens, que se agitava e que só olhava pra mim pra dizer com um gesto: Guenta aí. Aí, eu num guentei e fui pro hotel. E o Zé não arrumou tempo pra conversar comigo calmamente. Ele nunca arruma! E já era assim no tempo do Binômio. [O] Zé Maria é o cara mais pilhado que eu já vi, o homem não para. Agora, sou eu que, já no fim da minha vida (!), estou no mesmo ritmo, hora dessas caio pro lado e não levanto mais. Mas ainda vou ter tempo de escrever este texto sobre a minha bela aventura no Binômio e de como este jornal foi importante a para nossa vida de mineiros.

A minha, em particular. Eu era estudante de direito, morava em república, quando o jornal apareceu na cidade, começo dos anos cinquenta. O Binômio virou uma febre, só repetida, alguns anos depois, nas areias de Ipanema, com seu irmão carioca, o Pasquim!

Participei das duas aventuras. No Pasquim eu tava lá desde o primeiro número, sou considerado – sem que o seja de fato – um dos seus fundadores. No Binômio apareci com meus desenhos debaixo do braço, depois que vi o sucesso do jornal, depois de ter dito uma frase que só apareceu no linguajar brasileiro muitos anos depois: “Opa, esta é a minha praia” ou “Waall, esta é a minha tribo!”

Apareci na redação – que era uma zona – onde estava o Zé Maria, o Euro, o Hilton Veloso, o Amado Ribeiro, o Mário Athayde e tantos outros (ah, sim: o Gabeirinha não estava, ainda não).

Os desenhos que levei fizeram o maior sucesso e, logo na edição seguinte, apareci com meu Minas-boy tomando coca-cola na veia e esta piada fez tanto sucesso quanto a do Pinho com as meninas do Instituto de Educação desfilando na Avenida Afonso Pena e mudando de calçada ao passar em frente ao Banco do Antônio Luciano. Durante algum tempo, Rafael Siqueira, Adão Pinho e eu viramos a trinca dos humoristas gráficos do jornal e amigos para sempre! Minha colaboração no jornal foi uma das primeiras sensações de sucesso que experimentei na minha vida. Quem viveu a época do Binômio e a época do Pasquim sabe que nunca houve no Brasil duas publicações tão parecidas, duas intenções tão semelhantes, dois sustos tão iguais. Nem o pessoal do Binômio nem o pessoal do Pasquim podiam imaginar que íamos fazer tanto sucesso.

O Binômio foi para Minas, naquela época e naquele momento, exatamente a mesma coisa que o Pasquim foi para o Brasil, na época da ditadura. A diferença ficou por conta do tempo e da geografia. Mas éramos todos farinha do mesmo saco e me deixa muito feliz saber que, como uma boa farinha de munho, estive nos dois sacos.

Fonte: Rabêlo, J. M. 1997. Binômio: edição histórica. BH, Armazém de Ideias & Barlavento Grupo Editorial.

05 abril 2024

Glaciação e dinâmica biogeográfica

James H. Brown & Mark V. Lomolino

A dinâmica biogeográfica das biotas do Pleistoceno [foi desencadeada] por três mudanças fundamentais em seus ambientes:

1. Mudanças na localização, extensão e configuração de seus hábitats originais
2. Mudanças na natureza das zonas climáticas e ambientais
3. Formação e dissolução das rotas de dispersão

As respostas das biotas, adaptadas durante muito tempo a climas relativamente estáveis e homogêneos, também foram três:

1. Algumas espécies eram capazes de flutuar com seus hábitats ótimos, enquanto tais hábitats mudavam de latitudes ou altitudes
2. Outras espécies permaneceram onde estavam e se adaptaram às alterações dos ambientes locais
3. Outras espécies ainda sofreram redução de amplitude e eventual extinção.

Fonte: Brown, JH & Lomolino, MV. 2006 [1998]. Biogeografia, 2ª ed. Ribeirão Preto, Funpec.

03 abril 2024

A diária

Gil de Carvalho

Um fósforo aceso no escuro Lisboa
Muito cedo. Passa do muro indigo
Às casas; e vai resgatando partes
Do arvoredo. Põe a traqueia em risco
Fedegosa – Sabias? Vamos para o emprego.

A pequena actriz procura trabalho
E deixa-se foder. Entram padrões
De consumo a erguer o riso muito
Mais em baixo: espetáculos de rua.
São argolas de um muro... presas
Onde o rio – bate, farmacopeia sua.

Enquanto dois velhos sonâmbulos
Ptão e Raz, concebem disto – a fundo
Uma nova peça para antigos amos:
Cedo Lisboa raspada num fósforo cheira
Um pouco a terebentina e mar. Um gato

No casco, mija para entrar no segredo.
Por mais folhas que suba o sol
Segura mal velhos observatórios
A templos recentes. Tal como
O país, terá de escolher: ou menos
Puta ou melhor actriz.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1998.

01 abril 2024

Casa d’Oro


José Moreno Carbonero (1860-1942). Casa d’Oro. 1897.

Fonte da foto: Wikipedia.

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